Uma grade separa brasileiros e camaroneses em Brasília. De um lado, vigiados por viaturas da polícia militar, dezenas de fãs aguardam por atletas que blindados de toda pressão externa, dificilmente sairão dos seus quartos para uma foto ou um autógrafo que seja.
A poucos passos dali, qualquer um atravessa a guarita, passa pelos seguranças e sentado nas escadas do hotel assiste a uma partida de Copa do Mundo junto com jogadores que vibram com cada lance como se não estivessem eles mesmos a algumas horas de entrarem em campo pela competição esportiva mais importante da Terra.
Esta última é a concentração da seleção de Camarões antes do duelo com o Brasil, pela rodada final da fase de grupos da Copa do Mundo.
"São Loic Feudjou, Fabrice Olinga e Dany Nounkeu", diz o camaronês Kamgang Wilfrid, dentista, massagista e presidente do campeão nacional Apejes de Mfou, apontando na tela do computador as fotos dos rapazes que a reportagem do ESPN.com.br não conhecia.
"Esse sou eu", diz olhando no computador Olinga, atacante do Zulte Waregem, da Bélgica, para em seguida pular comemorando o gol de Nani, o primeiro do duelo entre Portugal e Estados Unidos. "Onde é esse partida, em Manaus? Jogamos lá, é longe, é quente."
Perguntado se também está torcendo pelos portugueses, o zagueiro Nounkeu faz cara feia e balança a cabeça negativamente. "Estou torcendo pelo meu amigo Jones, o camisa 13, somos companheiros no Besiktas."
LUCAS BORGES
Da esq pra dir, Feudjou, Nounkeu, Olinga e Wilfrid
"Também jogo com o Ramon - lateral-esquerdo ex-Inter, Vasco, Corinthians e Flamengo -, tenho vários parceiros brasileiros, sou muito amigo do Felipe Melo", conta Nounkeu antes de se levantar para jantar com o time e passar seu e-mail, "envia uma mensagem, te passo umas fotos dos jogos na Copa, já volto ai pra gente conversar."
O doutor Kamgang Wilfrid recepciona o visitante na ausência dos atletas, explica que todos estão achando incrível disputar a Copa aqui, mas que o país é grande demais, viajar de Manaus a Brasília é como ir da França a Camarões.
Samuel Eto'o age como uma estrela, tem pouca paciência com os fãs, exceto com as crianças e não é muito amigo do restante do grupo. A confusão com a negociação dos prêmios pela disputa do Mundial que por pouco não impediu os africanos de viajar ao Brasil foi culpa dele, mas o problema no joelho direito que deve impedir o atacante do Chelsea de enfrentar a seleção nesta segunda não é ‘migué', ao contrário do que afirmam alguns jornalistas. "Ele não deveria nem ter sido convocado, a lesão é séria", relata Wilfrid.
LUCAS BORGES
Eto's é cercado por fãs no hotel de Camarões
O dentista, massagista e presidente do Apejes de Mfou alerta, é bom o Brasil se precaver. Camarões pode ter perdido as duas primeiras partidas da Copa e pode ter se distraído com questões extra-campo, mas a equipe africana está com a cabeça boa e determinada a dar a vida no gramado do Estádio Mané Garrincha.
"No futebol tudo pode acontecer, veja ai, os Estados Unidos empatando com Portugal", exemplifica ele, citando o duelo que havia acabado de se encerrar em 2 a 2, um gol dos EUA de Jones, o amigo do zagueiro Dany Nounkeu.
O jantar do time chega ao fim, Nounkeu não volta como prometido, Eto'o desfila pelo saguão do hotel cercado por tietes, como se fosse um rei e Jean Makoun, meio campista do Stade Rennais, para no caminho pra um bate-papo.
Os camaroneses estão mesmo confiantes de que podem vencer a poderosa seleção brasileira e por fim ao sonho da vingança do Maracanazo já na primeira fase da Copa do Mundo? "É um jogo e estamos aqui para jogá-lo. Se pudermos causar uma tragédia no Brasil, vamos causar."
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