domingo, 27 de abril de 2014

Nunca senti necessidade de ser "adulto", diz Dinho Ouro Preto, aos 50 anos

domingo, 27 de abril de 2014 - by Unknown 0

Aos 50 anos, completados neste domingo, Dinho Ouro Preto não tem dor nas costas, não usa palmilhas ortopédicas e nem mesmo apresenta qualquer sinal de queda de cabelo. Em forma física invejável, fruto de suas idas diárias à academia, o vocalista do Capital Inicial só viu o tempo passar quando começou a sofrer de insônia. Para preservar o sono, parou totalmente com as drogas – álcool e cigarro incluído – e hoje é atleta de academia.

Atencioso, Dinho recebeu a reportagem do UOL em sua casa, no Jardim Paulistano, às vésperas de dar início aos ensaios para o novo EP do Capital, que deve ser lançado em junho.

No papo, franco e descontraído, o músico falou sobre tudo: rotina, família, drogas, Renato Russo, a queda do palco em 2009 e sobre a perseguidora pecha de ser o Peter Pan do rock nacional, aquele que se recusa a crescer. "Vejo isso quase como uma espécie de patrulha."

Colecionador de tatuagens e camisetas de bandas, ele se descreve como um pai "absolutamente normal". E, por que não, vaidoso --recorreu à uma rápida sessão de depilação no peito antes de tirar as fotos sem camisa para a reportagem.

O peculiar vernáculo Dinho Ouro Preto também foi pauta na entrevista, em especial o seu famoso apego ao vocativo "cara". Em 56 minutos de conversa, foram 83 'caras' contadas. "Eu vi o vídeo do Rock in Rio. Gente, que mico!", diz, demonstrando todo o seu lado espirituoso. Veja a seguir os principais trechos da conversa.

Como se sente chegando aos 50 anos e ainda à frente do Capital Inicial?

Tenho a impressão de que, quando você chega num número como esse, você vê quase como questão de honra não parar. Por mais improvável que fosse, vamos envelhecer com isto aqui. Vamos dar uma de Stones, AC/DC, Aerosmith. Vamos tentar chegar aos 60 com isso. Provavelmente nossa frequência vai diminuir. Não vamos fazer tantos shows do ano e podemos eventualmente tirar anos sabáticos, para fazer projetos alternativos.

Os anos passam, mas eu não sinto o ímpeto fazer com que minha música e minhas atitudes se tornassem, digamos, "adultas"
Dinho Ouro Preto
Não sinto diferença nenhuma. Corro todos os dias desde que parei de fumar, sete anos atrás. Então, não sinto nada. Eu me sinto em forma. Eu gosto dos mesmos tipos de música. Continuo gostando das mesmas "bobagens" que eu gostava quando tinha 18 anos, e até antes. Led Zeppelin, AC/DC, Kiss, Black Sabbath, Legião. Fui incorporando outras bandas que foram se formando depois, mas continuo gostando das primeiras coisas que eu ouvia quando era adolescente.

Dos livros também. Estou relendo coisas agora. Reli Bulgakov, "O Mestre e a Margarida". Peguei o "Kalki", do Gore Vidal. Estou lendo também coisas do Kurt Vonnegut, que eu gostava muito. Vários livros que li quando era adolescente. Ou seja, os anos passam, mas eu não senti o ímpeto fazer com que minha música e minhas atitudes se tornassem, digamos, "adultas".

A que você atribui isso?

Acho que, no Brasil, cara, ao menos quem se associa a rock, em determinado momento você tem que se tornar mais sério, ou mais adulto, ou ouvir MPB. Ver coisas mais, sei lá, "cinema novo". Coisas que a "inteligência brasileira" acha mais adequado a pessoas mais maduras. E, no entanto, eu não sinto essa vontade. Os meus autores, os meus diretores e minhas músicas continuam sendo os mesmos de quando eu tinha 19 anos.

Dizem que você é o Peter Pan do rock nacional.

Acho que há nesse comentário uma pitada de crítica na medida em que agir do jeito que eu ajo é associado à uma atitude pueril. Ou ter um gosto que me faria ser talvez um homem infantilizado, ou que meu gosto seria pueril. Eu rebato isso com esse argumento que eu acabei de te dar. Eu gosto desses autores. São homens sérios, escritores sérios. Músicos sérios, diretores sérios. Vejo isso quase como uma espécie de patrulha. No Brasil há muitas patrulha de gosto.

E se eu gostar de trash cinematográfico, por exemplo, qual é o problema? Se gostar de ficção científica. Por que isso é uma coisa circunscrita à sua adolescência? Eu discordo. Outro dia alguém escreveu no meu Facebook: "O adolescente mais velho do Brasil". Eu leio aquilo e falo: "OK, cara. Mas não vou reconsiderar".

O que há de 50 anos em Dinho Ouro Preto? Você tem dor nas costas, usa palmilha ortopédica?

Nada. Aos 43 anos comecei a correr. E lá na academia estava agora a Mizuno, uma fabricante de tênis. Eles fizeram um teste em que você coloca seu pé parado e depois você corre, e o cara vê se sua pisada é correta e infere coisas a respeito da sua coluna. E o meu saiu que não piso nem para fora nem para dentro, que a minha pisada está correta.

Eu imaginei que eu fosse ficar com algum resquício do tombo que eu tomei, em 2009, porque ali eu quebrei vértebras, quebrei meu crânio. As lesões foram muito sérias. Mas, não. Não sinto dor. Eu sentia na coluna até muito pouco tempo atrás. Mas isso foi gradativamente sendo eliminado pelo meu sistema. Eu atribuo isso à academia. Eu passo uma hora e meia lá. Todo dia de manhã eu acordo, tomo café e vou. Corro durante meia hora e faço ginástica.

Você é pai de três filhos. Como é o Dinho pai que a gente não conhece?

Velho, se você não conhece, é de propósito. Acho que no Brasil as pessoas meio enlouquecem com celebridade. Elas perdem um pouco a noção do que é público e privado. E a gente sempre fez um esforço aqui dentro da nossa casa de manter a nossa privacidade, de não deixar fotografar nossos filhos e de preservá-los.

Eu tenho uma vida absolutamente normal. Vou a reuniões da escola. Dou bronca. Faço dever de casa. Troquei muita fralda. Passei a semana da páscoa no sítio com as crianças. Jogo futebol com o meu filho. Somos todos cinéfilos aqui em casa. A gente passa horas e horas vendo filmes. Minha filha mais velha está com 17, então já posso dar livros que li que acho que ela irá curtir.

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